“Meu primeiro contato com a obra do jovem professor de historia das artes, Jair Glass foi no 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea, para onde ele enviou poucas amostras de sua tímida e intimista linguagem plastica: o desenho. Já se podia constatar, no entanto, as qualidades que caracterizam o trabalho iniciante deste artista de 27 anos que apresenta agora a sua primeira exposição individual.

Jair Glass realiza obras de pequeno porte, cautelosas ainda, entre assustadas e deslumbradas com as propiás descobertas, dotadas daquelas características positivas que são frutos da inexperiência plástica, onde o vício, a inautenticidade e as apropriações fáceis não se manisfestam. Com uma liberdade(contida, às vezes) e emotividade quase infantis, Glass trata de maneira sensível a sua imaginária fantástica, criando um bestiário surreal, anônimo e desesperado. Traduz este universo subjetivo por meio do lápis, da esferográfica e do guache que usa para colorir sombriamente suas composições; de colagem de fios e da superposição do papel que enegrece com intensidade, formando janelas ou distinguindo planos e perspectivas, para conseguir uma densa atmosfera de sonho. São objetivações, em delírio, dos temores, memórias de suas vivencias interiores, das quais Glass extrai a essência – o sexo, a morte, o sonho, a loucura, a vida – incorporando elementos simbólicos figurativos à composições abstratas, em sequencia uniforme e linear no conjunto de seus desenhos.

Não resta duvida, entretanto, de que ainda existe para Glass, assim como para outros jovens de talento que iniciam suas carreiras, um árduo caminho artístico a percorrer. Aquele da perseverança no estudo das infinitas possibilidades que o espaço, a cor, a luz, o traçado e a técnica do desenho oferecem, cuja perfeita manipulação é a única alternativa e sustentáculo para evidenciar a criatividade que estes artistas revelam em seus trabalhos”

São Paulo, novembro de 1975

Sheila Leirner

Sobre Jair Glass escreveu Carlos Rocha em seu livro “D’ Arte Amante” (1987): “A simplicidade e ternura pessoal de homem da periferia de São Paulo (Guaianazes) contrasta com a tormenta interior que explode em seus desenhos de pequeno formato onde cabem de forma exata seres monstruosos, distorcidos, fantasmagóricos, num cenário de rituais mágicos: símbolos de revolta interior! (…)

Seus desenhos revelam a fraqueza, a fobia, a tara, o misticismo, a sensualidade, a ambição, as ilusões: grande mistério da eterna inquietação do ser humano. Sua arte é séria: não provoca risos! Conduz o expectador a um posicionamento (não importa qual) ao defrontar-se com imagens que habitam o seu próprio “id”. E o menino de arrabalde sorri placidamente, satisfeito com o resultado de sua obra: perplexidade!”